A Bipolaridade em Cães: Existe ou é um Mito?
A bipolaridade, ou transtorno bipolar, é uma condição psiquiátrica que afeta os seres humanos, caracterizada por variações extremas de humor, que alternam entre episódios de mania e depressão. Esse transtorno é amplamente estudado na medicina veterinária, com ênfase no comportamento animal, especialmente em cães, uma vez que a observação do comportamento animal permite aos cientistas e profissionais da saúde animal traçar paralelos entre as condições psicológicas dos seres humanos e os animais. No entanto, surge a questão: será que cães podem desenvolver uma condição análoga à bipolaridade humana?
Para entender melhor se existe, de fato, bipolaridade em cães, é necessário examinar o que caracteriza a doença humana e se é possível que esses sintomas se manifestem de maneira similar nos cães. O transtorno bipolar em humanos é definido pela ocorrência de oscilações significativas no humor, energia, comportamento e capacidade de tomar decisões. Durante os episódios maníacos, os indivíduos geralmente apresentam comportamento impulsivo, agitação e euforia, enquanto na fase depressiva, podem sentir-se tristes, desmotivados e com um comportamento de retração social. A alternância entre esses estados pode ser abrupta ou gradual e geralmente ocorre ao longo de semanas ou meses.
O Comportamento canino: complexidade e variabilidade
Cães, embora não possuam a capacidade cognitiva e emocional de um ser humano, demonstram uma grande complexidade em suas respostas emocionais e comportamentais. O comportamento canino pode ser influenciado por uma série de fatores, como genética, ambiente, treinamento, experiências passadas e até mesmo doenças físicas. Além disso, os cães também podem manifestar mudanças em seu humor e comportamento, como excitação ou apatia, o que pode ser confundido com sintomas de bipolaridade. No entanto, essas variações não têm a mesma origem ou a mesma intensidade dos episódios maníacos ou depressivos observados em seres humanos.
Em primeiro lugar, é importante destacar que os cães podem passar por períodos de estresse, ansiedade ou euforia, mas esses episódios geralmente têm causas externas bem identificáveis, como mudanças no ambiente, na rotina ou na interação social. Quando um cão passa por uma fase de comportamento agitado ou hiperativo, por exemplo, pode ser uma resposta a estímulos externos, como a presença de outros animais, barulhos intensos ou até mesmo uma alteração no padrão alimentar. A fase oposta, de retração ou apatia, pode ocorrer em decorrência de uma doença física, falta de estímulo adequado, ou ainda um período de luto, após a perda de um companheiro ou familiar, humano ou animal.
O Papel das doenças neurológicas e psiquiátricas
Embora não exista uma comprovação científica robusta de que cães possam ser diagnosticados com transtorno bipolar, há condições neurológicas e psiquiátricas que podem resultar em comportamentos semelhantes aos sintomas humanos dessa doença. Por exemplo, cães que sofrem de epilepsia podem ter episódios de alterações no comportamento, como agressividade ou confusão, após uma convulsão. Da mesma forma, transtornos como o distúrbio obsessivo-compulsivo (TOC), que afeta alguns cães, podem fazer com que o animal alterne entre momentos de intensa atividade compulsiva e períodos de retração ou apatia.
Do ponto de vista neuroquímico, ainda não há evidências de que os cães apresentem os mesmos desequilíbrios nos neurotransmissores associados ao transtorno bipolar em seres humanos, como a serotonina e a dopamina. No entanto, os cães, assim como os humanos, podem sofrer de desequilíbrios químicos no cérebro que resultam em comportamentos irregulares, como no caso de algumas formas de ansiedade, fobias ou agressividade. A psiquiatria veterinária, no entanto, tende a classificar esses distúrbios como transtornos comportamentais em vez de condições psiquiátricas no sentido humano da palavra.
Diagnóstico e tratamento de transtornos comportamentais em Cães
Embora a bipolaridade, como definida na medicina humana, não seja reconhecida como uma condição em cães, existem uma série de distúrbios comportamentais caninos que podem necessitar de atenção especializada. O diagnóstico de um distúrbio comportamental em cães geralmente envolve uma análise detalhada do comportamento do animal, incluindo a observação de padrões de mudança de humor, interações sociais e possíveis gatilhos ambientais. Além disso, os veterinários podem recomendar exames para descartar causas físicas, como doenças neurológicas ou hormonais, que podem estar contribuindo para o comportamento observado.
O tratamento de distúrbios comportamentais em cães geralmente envolve uma combinação de modificação do ambiente, treinamento e, em alguns casos, medicação. Medicamentos podem ser utilizados para controlar a ansiedade ou agressividade, e terapias comportamentais podem ser implementadas para ajudar o animal a lidar com os estímulos externos de forma mais equilibrada. No entanto, é fundamental que qualquer intervenção seja supervisionada por um profissional qualificado, pois o uso indiscriminado de medicamentos pode ter efeitos colaterais indesejados.
Embora a bipolaridade, como uma condição psiquiátrica humana, não tenha uma correlação direta com os comportamentos observados em cães, é possível que alguns animais exibam padrões de comportamento que, à primeira vista, possam lembrar os sintomas de alterações de humor. No entanto, esses comportamentos frequentemente têm causas externas ou orgânicas e devem ser avaliados em conjunto com um diagnóstico veterinário completo. A ciência ainda está avançando na compreensão da psique e do comportamento animal, e enquanto algumas condições psiquiátricas humanas podem ter paralelos em cães, a bipolaridade, como definida para os seres humanos, permanece uma condição exclusivamente humana.